A experiência consciente humana está imersa no tempo. Temos noção de ontem, hoje, amanhã, o próximo ano, o mês passado. Temos a sensação de passarmos tempo demais cumprindo obrigações e deixando de lado as coisas que nos dão prazer. Damo-nos conta que estamos envelhecendo e que talvez não dê tempo para realizar nossos sonhos.

O tempo está intimamente conectado com a consciência da morte. É a própria consciência de um fim que cria esta percepção de um enquadre temporal. As crianças pequenas não têm noção de tempo. Se você disser a uma criança de dois anos que você vai passear com ela amanhã, a cada 2 minutos ela vai perguntar se já é amanhã. Ela ainda habita um universo atemporal e infinito.

Como uma noção que adquirimos à medida que desenvolvemos nossa consciência de ego, esta identidade que nos define e localiza em relação a um espaço/tempo específico, o tempo surge da nossa percepção comum da terceira dimensão, onde predominam a altura, a largura e o comprimento e em que levamos um determinado tempo para percorrermos um determinado espaço.

Nos tempos atuais, contudo, já não precisamos mais estar mais limitados pelo tempo e pelo espaço. Você que está lendo este texto está em um tempo e espaço distinto do próprio texto e de todas as pessoas que têm acesso a ele, simultaneamente. Utilizamos diariamente a internet e não nos conscientizamos que ela representa uma dimensão para além das três, com as quais estamos habituados. Não importa qual seja sua localização espacial e temporal, você tem acesso ao conteúdo da internet, a qualquer momento e de qualquer lugar.

Vivemos em um universo globalizado, onde a informação circula livre e instantaneamente. Desenvolvemos tecnologias de informação e comunicação, que nos permitem acessar qualquer lugar do planeta, a qualquer momento. Isto ampliou nosso mundo de uma forma espantosa. Somos incessantemente inundados por informações, uma condição que contribui para a sensação de que não há tempo, porque não dá mesmo tempo de fazermos todas as coisas que poderíamos, deveríamos ou gostaríamos de fazer ou saber.

Mas se é bom termos escolhas, termos possibilidades amplas e diversas, isto requer que saibamos fazer escolhas. Escolher implica em decidir o que fica de fora, o que deixamos de lado. Temos medo de ficar de fora, ao fazermos escolhas diferentes de outras pessoas, de não estarmos a par de tudo que acontece no mundo, apesar da maioria das informações não terem utilidade ou sentido para nossa vida.

Talvez devêssemos nos perguntar, se realmente precisamos saber de tudo, se isto nos traz algum benefício ou se simplesmente deixamos tudo entrar em nossa consciência, porque não queremos nos ocupar de nós mesmos. Na tentativa de abarcar o mundo, estamos o tempo todo voltados para o exterior, nos relacionando de modo superficial com tudo e, principalmente, conosco. Entupimo-nos de informações sem importância, que pouco contribuem para enriquecer nossa vida.

Quando nos distanciamos de nós mesmos, do nosso mundo interior, ficamos infelizes e gastamos nossa energia com coisas fora de nós, coisas que não necessariamente alimentam nossa alma. Ficamos infelizes, porque nos distanciamos da nossa alma, da alma das coisas, da alma do mundo. Ficamos com a imagem, a aparência, o superficial, o artificial, aquilo que é passageiro e mortal.

Quanto mais investimos nossa energia em coisas passageiras, mais rapidamente vai passar o tempo. O tempo passa com a mesma rapidez com que passa aquilo a que dedicamos nossa atenção. Quando queremos uma coisa nova a todo momento, quando buscamos hoje as novidades que amanhã já estarão ultrapassadas, quando não investimos em algo mais duradouro, mais consistente, entramos em um ciclo vicioso e usamos nosso tempo, nossa energia, nossa atenção, com coisas que são passageiras, que precisam ser renovadas, recriadas, substituídas a cada momento.

Ficamos tão viciados que, quando não temos algo novo para ocupar nossa mente, algo que vem de fora, somos tomados por sentimentos de isolamento, de abandono, de solidão, de medo, de insignificância. Achamos que todos estão fazendo algo maravilhoso e nós estamos excluídos disto. Na tentativa de escapar destes sentimentos, procuramos alguma coisa para fazer, algo que nos tire deste estado.

Para dar um basta a isto, temos que olhar para dentro, assumir nossos sentimentos mais temidos, buscar o valor que temos pelo simples fato de existirmos. Precisamos preencher nosso tempo, nosso espaço, nossa vida, com aquilo que trazemos para contribuir com a vida, com o mundo. E se não soubermos o que isto seja, podemos permanecer por tempo suficiente no desconforto, na solidão, na angústia, até que algo brote dentro de nós.

Temos que aprender a dizer não e a fazer escolhas baseadas em nossas necessidades reais, mesmo que isto signifique distanciar-se um pouco do mundo. Precisamos nos habituar a desligar o celular, o computador, a televisão, e talvez pegar um livro, um trabalho manual, uma conversa íntima com uma pessoa amiga, algo que estimule a interação entre o mundo externo e o mundo interno, algo que estabeleça um contato direto com nossa existência como ser humano. Podemos olhar o céu, os pássaros, as estrelas. Conversar com as árvores, apreciar as plantas e as flores.

Não podemos esperar que o mundo mude, temos que mudar individualmente.

Cada pessoa precisa encontrar seu próprio ritmo, aquilo que realmente a torna mais saudável, mais feliz, mais plena. Não podemos contar com o coletivo para iniciarmos a transformação, porque o coletivo é um conjunto de indivíduos. Podemos ser o indivíduo que inicia a mudança do coletivo. Se ficarmos esperando que o mundo mude para mudarmos nossa vida, jamais mudaremos.

Cada pessoa precisa saber e sentir que ela pode mudar sua vida para encontrar um ritmo que lhe seja apropriado, precisa se responsabilizar pela sua própria mudança, precisa encarar seus medos, identificando suas origens e motivos, refazendo escolhas e decisões, acolhendo-se amorosamente e manifestando o melhor de si mesmo. Se quisermos nos tornar o melhor que somos, não podemos ficar esperando que alguém outro nos diga o que fazer; precisamos descobri-lo por nós mesmos. Podemos contar com outras pessoas para nos espelhar aquilo que precisamos mudar, mas não para nos dizer o que devemos fazer.

Se vivermos cada momento presente com integridade, com inteireza, realmente presentes com nossa alma, mente e corpo como uma unidade, a passagem do tempo terá outro sentido, porque em vez de nos preocuparmos com o tempo que perdemos, estaremos vivendo no tempo. Estaremos usufruindo nossa vida, para além dele.

Enquanto estivermos respirando neste corpo físico, poderemos trabalhar para encontrar equilíbrio e quando o tempo deste corpo físico tiver se esgotado, continuaremos buscando o equilíbrio em outra dimensão em consciência. Seria sábio se aproveitássemos qualquer que seja o tempo cronológico de que dispomos, porque a trajetória de nossa alma está fora do tempo. Ao encarnarmos, mergulhamos no tempo. E aquilo que não equilibrarmos neste tempo de que dispomos, se apresentará para ser feito em outro.

Monika Von Koss
Psicoterapeuta, Escritora e Coordenadora do Espaço Caldeirão

SÃO PAULO/RS

FONTE: Espaço Caldeirão

2 Responses
  1. Anônimo Says:

    Este artigo é maravilhoso! Parabéns à Monica, e a vc, Simone!
    Um abraço.

    Jualine (Juliana Xabb)
    julianaxabb@hotmail.com


  2. Anônimo Says:

    Maravilhoso! Tudo a ver com os questionamentos que tenho feito ultimamente sobre o que dá verdadeiramente sentido à vida e de por que corremos tanto atrás de determinadas coisas somente para satisfazer nosso ego. Beijos


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