Sou Ariany, também Fiandeira.
Fiando sonhos e realizações,
sentada, quieta, a observar
a pequenina aranha que também não se cansa de fiar...

Mulher, Mãe.
Carreguei no ventre dois meninos
que se formaram arteiros:
fazem Arte que dá gosto de olhar e brincar!

Amante e guerreira,
também sei cozinhar, e amo estar entre as panelas,
temperos e aromas...

Artesã, que dá um jeitinho em tudo.
Argila, tintas, linhas, papéis, botões,
caixas de madeira, e tudo mais o que vier!

Danço, canto, toco, encanto e me divirto!!!
Aliás, o que seria da vida sem um bocado de tempero e celebração?

Amo tempestades, na mesma intensidade em que amo sentir o aroma das pequenas margaridas.
E ainda, sentir o vento, com tranquilidade, sem pertubações...

Amo a família em que nasci e a que constituí.
Detesto cobranças e não adianta forçar a barra!!!
Acredito que não exista nada mais perturbador do que o choro inconsolável de uma criança...

Busco aprender e não apenas isso.
Amo a Grande Mãe e o Grande Deus em todos os seus aspectos.
Não digo que sou uma estudiosa, pois vejo na prática uma fonte inesgotável do Saber.

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Me descobri bruxa de cozinha quando tinha uns 17 anos e desde então a bruxaria e os rituais elaboradíssimos perderam o sabor, não no sentido de não mais terem valia, mas a conotação que eu dava ( e a maioria dos que conheço que ainda dão), quando era adolescente.

Porque hoje vejo a bruxaria e o paganismo tão distante (embora não veja problema algum em ambos serem "trabalhados" ao mesmo tempo) quanto o céu da terra.

Bruxaria está por toda parte, por todas as culturas e povos...
Porque enxerguei a bruxa que era minha avó, com suas ervas e chás para dor de barriga e sua comida que a todos encantava, assim como no interior de Minas, na cidadezinha de onde vieram meus familiares maternos e de como por lá existem benzedeiras e raizeros: curam com plantas e rezas, conquistam pelo café e o simples biscoitinho de queijo.

Parece que esse mundo "caipira" se tornou mais encantado que antes e parece que ninguém enxerga isso; me sinto uma caipira pós-moderna (como diz sempre a Márcia Frazão), que ama morar num sítio e pode colocar o pé no chão.

Tenho um desejo enorme de ter uma cozinha caipira com fogão a lenha e poder conversar na madrugada, tendo o fogo como companheiro, que esquenta a água para o chimarrão.

Tenho pensado tanto no meu tio zizinho, que é raizero: faz garrafada, tintura, chá.
Os filhos não dão a mínima pra ele e eu, desde pequenina, corria atrás dele, só pra aprender mais e mais. Ele é espírita kardecista e isso contribui para que trabalhe como voluntário, curando as pessoas, assim como me curou quando eu tive otite.
Eu sempre achei o máximo ter essas duas pessoas tão próximas de mim!
E minha mãe, que manda os espíritos irem embora, fala "rasgado" com eles e tem um olhar fulminante; minha tia marlene é a espiritualista da casa e sempre me incentivou (ela joga tarot comigo e sempre que estou em sua casa, os papos variam tanto, mas sempre caem na bruxaria rs), entre tantas outras histórias minhas, da minha família que é única e intransferível, que faz ser quem eu sou...

Hoje minha mãezinha (era como eu me referia à minha avó) está com as estrelas e lembro tanto de suas histórias, que serão recontadas aos netos.
Ela era tão bruxa que sabia que nunca conheceria meus filhos (Dhayaram nasceu um ano após sua "passagem"), assim como sabia que estava para partir, uma semana antes e avisando a mim, ao meu marido e à minha tia marlene.

Ela sabia e por isso deixou tudo pronto para quando chegasse o momento.
E foi, como um passarinho...bateu suas asas e, durante o vôo, lembrou-se de sua filha-neta e me visitou se despedindo e deixando conselhos.
Eu a amo e continuarei a amar para sempre, ela me ensinou a adorar a Deusa, através de suas santas e sua forma de enxergar a vida.

Suas histórias sobre a festa que faziam na colheita do café e das cantorias em volta da fogueira em noite de lua cheia ( na lua nova, ninguém saía de casa, por causa da escuridão), de como a minha tataravó tratava os escravos: mesmo antes da abolição da escravatura, ela abriu mão de ter escravos e os tinha como empregados, com salário e tudo (inovador pra época e eu adorava falar isso nas aulas de história, sentia muito orgulho dessa atitude!).
Por vezes, quando estou na cozinha, sinto seu cheiro, escuto sua voz e isso me faz enxergar a verdadeira tradição que devo dar continuidade e isso é familiar; penso nos infinitos debates virtuais sobre bruxaria hereditária e etc's, que me cansa.
Dizem que isso não existe.

Será que ninguém percebe que em toda família, pagã ou não, existe uma tradição e que esta deixa de ser tradição quando não é passada para a geração seguinte?
Será que é tão difícil entender que bruxaria não é uma religião organizada e estruturada?
Que o não ter um método também faz parte da bruxaria?
Alô? Será que tem alguém me escutando?

Ariany (Dhanna)
Artesã, mãe, bruxa e mulher, que acredita na força da Natureza, das pessoas, da vida!
http://afiandeira.blogspot.com
afiandeira@hotmail.com
Belo Horizonte/MG
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