A tarde de hoje foi chuvosa (e chorosa). O calor exagerado do dia produziu nuvens negras e densas; veio um vento forte, e Gaia chorou o que tinha de chorar. Mas Ela deve ter se aliviado, assim como eu.
À tardinha, a energia caiu. Preparei algo para comer. Sentei na cama com o prato de comida sobre a almofada, e esta sobre minhas pernas.
Enquanto comia, notei o nível de luminosidade do ambiente. O interruptor estava ligado, mas a luz da lâmpada estava fraca, em virtude da chuva e do vento momentos antes.

Então, me veio à mente um artigo que tinha visto na Internet dias atrás sobre a possibilidade de o Sol ter uma estrela companheira, formando, assim, um sistema binário, o que, diga-se de passagem, muitos astrofísicos acreditam ser comum no Universo.

Essa suposta parceira do Sol foi batizada de Nêmesis. Na mitologia grega, Nêmesis é a deusa da punição. Imparcial, ela não hesita em aplicar o devido castigo a quem ouse burlar os princípios da ética e da justiça. Na verdade, Nêmesis não prejudica ninguém. Ela só é justa, doa a quem doer. E sua filosofia se resume a “fiat justitia, ruat coelum” (faça-se a justiça, mesmo que desabem os céus). Ai de quem não andar na linha...

Pois bem. Estamos cansados de saber que a vida na Terra deve-se à influência do Sol. Energia, calor, luz. Muita luz. O Sol é uma estrela amarela de 5ª grandeza (mas ele tem “catiguria”), convertendo, tranquilamente, quatro lindos átomos de hidrogênio em um átomo de hélio. A clássica fusão nuclear solar.
E será que Nêmesis, a suposta “coligada” do Sol também se encaixa nessa categoria? Bem, devo informar-lhe que, infelizmente, não. Nêmesis pode fazer parte de um grupo não muito comum de estrelas, as chamadas anãs marrons. Por esse nome, dá para perceber que ela não é, nem de longe, parecida com nosso Sol, tão brilhante e majestoso.
Anãs marrons são consideradas estrelas “falidas”. Coitadinhas! Sem falar que são muito menores do que nosso Sol, irradiando, assim, pouquíssima luminosidade. Mas, e daí? São estrelas do mesmo jeito, ora! Imagine, então, como seriam as condições de um planeta que orbitasse uma estrela anã marrom como Nêmesis.
Confesso que, ali mesmo, no “quase” escuro do quarto, enquanto comia, comecei a fantasiar acerca disso. É só uma fantasia, que fique bem claro.

Se a Terra orbitasse Nêmesis, muita coisa seria diferente. Começando pela luz do dia. Não seria tudo tão “clarinho”. E, provavelmente, o céu não seria azul. Poderia ser alaranjado ou marrom claro. Recebendo tão pouca luz desse nosso “sol”, nós, humanos, enxergaríamos pouco, pois até nossa visão depende da entrada da luz solar em nossas retinas. Seríamos como os morcegos (mas não voaríamos). Em compensação, nossos outros sentidos seriam mais desenvolvidos.  Estando tudo quase às escuras, nosso ritmo de vida seria menos intenso. Não correríamos tanto, não trabalharíamos feito burros de carga, não seríamos tão escravos de nós mesmos. Poderíamos até passar mais tempo em casa, aproveitando a companhia dos nossos entes queridos e amigos.

Conversando mais, conhecendo melhor o mundo do outro, e o nosso próprio... Talvez, nem nos importássemos tanto com as aparências. Seríamos bem menos artificiais. Claro, enxergando pouco o exterior, talvez buscássemos mais o interior. As mulheres, principalmente, não se preocupariam mais com gordura localizada, celulite, estrias & cia porque não teria clínicas de estética. E as outras pessoas, obviamente, não perderiam seu tempo fazendo tais observações, pois no breu não haveria muito o que olhar. A única estética necessária seria a da alma. E isso serve para os homens também.

Não sou contra a estética. Muito pelo contrário. Adoro salão de beleza. Adoro comprar roupas e sapatos. Quem não gosta? Quem não quer andar arrumado e de bem consigo mesmo? Hein? Hein? E tem que querer mesmo, porque é da natureza humana desejar o melhor.
É a luz do nosso Sol que entra em nossos olhos. Por isso, vemos o que vemos da forma que vemos. Mas poderíamos ver mais porque existem outras luzes que, infelizmente, ainda nos passam despercebidas. Seja pela pressa ou pela nossa incapacidade visual. Ou pela arrogância, pelo preconceito. Ou pelo medo.
E você? Que tipo de luz tem permitido entrar em suas retinas? Talvez não tenha se dado conta, mas pode, até o momento, ter se deixado “cegar” diante de muitos fatos em sua vida. Será que tudo o que tem visto é mesmo o que gostaria de ver? Que relação há entre o que se vê e o que se sente? As respostas poderão surpreender você!
Talvez, se Nêmesis fosse mesmo nossa estrela, só enxergássemos o necessário, o essencial, e quem sabe, fôssemos menos artificiais, menos apressados, menos estressados. E até mais felizes.

Será que a escuridão também serve para alguma coisa? Penso que sim. Nem que seja para acender uma velinha e iluminar tudo de novo, numa tentativa de afastar nossos monstros. Mas é bom que saiba que algumas coisas se tornam mais claras quando estamos no escuro da nossa existência. Um tanto contraditório, eu sei. Mas o que seria dos fabricantes de velas se não fossem as pequenas quedas de energia elétrica e os “apagões”?

Inteligentes como somos, podemos aproveitar melhor o que recebemos do nosso Sol dourado. Por que não? Sejamos felizes! Curta mais a beleza do arco-íris, as cores das flores, o balé das borboletas, a presença de quem você quer bem. Tá na hora de despertar a visão interior. Deixe brilhar a sua luz. Nem os “apagões” duram para sempre.

Por Juliana Xabb - Escritora e Poetisa
julianaxabb@hotmail.com
Jequié/BA
1 Response
  1. Anônimo Says:

    Muito interessante este texto, gostaria de conhecer mais o trabalho da escritora...


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