Acabo de perceber que plantas são como filhos para mim. Ok, minhas cadelas também o são.
Cada qual tem sua personalidade, seus melindres, suas coisas, suas funções e descobrí-la por mim mesma é uma tarefa muito gratificante. E no calor tremendo que a cada dia parece pior minha preocupação com elas chega a ser absurda, egoísta e protetora. Enfim, uma mãe eu sou! Recuso-me a tentar entender como há pessoas que contratam outras pessoas para cuidar de suas plantas. Gosto? Falta de opção? Pode ser, mas ao meu ver esses nunca serão entendedores de plantas, apenas apreciadores ou colecionadores.
Plantas como tudo que é vivo, precisa de contato direto, diálogo, entendimento, convívio.

Cada planta conta uma história, dá uma lição, mostra um viés de personalidade envolvida num mistério verde.

As Samambaias são plantas fortes , nasceram no cimento do meu mísero quintal. Quando retirei uma e coloquei no famigerado xaxim, morreu. Acho que morreu de tédio, o cimento lá no canto junto com a Maria-sem-vergonha, devia ser mais emocionante. Então, logo outras samambaias nasceram na rachadura do cimento e por lá estão ficando, como guardiãs de algo que ainda desconheço. Não exigem muito, gostam de água na medida certa e não reclamam do sol. Parecem pessoas do deserto.

Gerânios são cheios de melindres e reclamações sem fim. Ainda não me adaptei a eles. De quando em vez resolvem dar flores para provar que não estão mortos, mas, mesmo assim posso ouvir todo dia as reclamações de sol e da falta de sol. Parecem que ainda não sabem o que querem, o que me causa angústia por não saber agradá-los. Minha mãe que sempre teve gerânios em casa, resolveu me dar uma mão, mas nem ela entende porque esses gerânios estão tão enjoados e chatos (mas do que o natural) e cada dia tentamos uma tática nova. Estou quase pedindo de joelhos que se resolvam logo!!

Capim Cidreira e Espada de São Jorge são plantas que se satisfazem com tudo o que vier! Podei o capim cidreira há um mês e já está grande e forte novamente, pronto pra ser colhido e distribuído entre a vizinhança que aprecia muito o chá antes de dormir. A Espada de São Jorge vive por si só, sem muita água, é guerreira de natureza!

Hortelã é uma das mais lindas que moram aqui. Certa vez tive um pezinho que morreu no verão. Aprendi que ele gosta demais de água, de estar sempre fresquinho e exalar seu delicioso e refrescante perfume. É espalhafatoso, se esparrama e cresce a olhos atentos! Fica empolgado quando é solicitado para alguma receita ou chá, gosta de se sentir útil. É uma planta vaidosa e nem se importa de dividir o vaso com o Alecrim que por sinal também é exuberante, porém é de personalidade forte e silenciosa, só dizendo algo quando solicitado.

As Rosas...Ahh as Rosas. Essas são damas. Nunca reclamam de nada e estão sempre prontas a ensinar-me algo ou a ouvir meus queixumes. São amigas para toda hora.
Choraram quando a roseirinha morreu, ficaram de luto, depois cobriram com galhos novos o local vago da roseirinha morta para mostrar que a vida tem que continuar.
São damas vaidosas, querem água todo dia de preferência no fim da tarde.
Quando chove gostam das tempestades, ficam nuas e exibidas para a água e os raios, um tesão sem fim! No dia seguinte, como por passe de mágica, botões já começam a brotar de recantos misteriosos e a chuva e seus brotos são assunto para dias.
Falam muito, chamam atenção de qualquer jeito. Se espreguiçam e brotam. Fazem questão de se mostrarem sempre belas, volumosas.
Eu nunca tive rosas e foi com elas e com Dona Alice - minha vizinha que forneceu-me a única muda dessa festa toda - que apreendi a cuidar das Damas. Aqui, quando um bracinho delas, já não quer mais dar flores corta-se, para nunca aparentarem velhice. Sabe-se lá como serão sempre jovens e belas.

A Alfazema me parece ser muito preguiçosa, criou um monte de folhas, mas aquelas flores lindas que amo tanto, ainda não deram o ar da graça. Por enquanto ela está lá e eu cá pensando no que fazer, mas já me disseram que é planta que demora. Com a Alfazema, aprendo a ter paciência e apreciar um dia após o outro até que a surpresa de um doce lilás, chegará!

Orégano é muito divertido, parece uma criança! Miúdo, magricelo, esperto que só! Não quis ficar com as outras plantas, escolheu a janela do meu quarto para morar. Cismou. Fez pirraça e conseguiu. Ali toma um pouco de Sol moderadamente, espia um pedaço da rua, dá risadas e fica me olhando quando estou deitada na cama lendo. Olha o meu altar que fica ao seu lado, conversa com Hera, estão íntimos que só vendo! Está com umas folhas secas que ainda não entendi o que querem dizer. Será que é assim mesmo?

Manjericão!Quase todo mundo que conheço tem um problema com o manjericão. Ele é de temperamento suicida!! Finge que morre, faz um drama terrível, aí você pensa: morreu. De repente ele resolve voltar à vida e começa a brotar lá de baixo, tudo de novo. Um dramático gostoso!

Enfim, acredito que as plantas podem ser companheiras de jornadas, nos trazer lições de tranqüilidade, paciência, amor, atenção e um pouco de humildade em ser útil!


Iony Ming
Artesã, focalizadora de Círculos Femininos, mulher, feminina, quase feminista, que menstrua, que pensa, que celebra, que briga, que ama. Mulher de Alma Rubra.
http://rubraalma.blogspot.com
http://luxoearte.blogspot.com
ionyming@yahoo.com.br
Vila Velha/ ES

1 Response
  1. Adorei os seus comentários muito bom mesmo.

    Greice Moutinho


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